CoRrEr...

cOrRe...
CoRrE
CoRrE
CoRrE
... E CORrE, com quantas forças tem.
Seguem-lhe as pisadas há horas...
A noite já vai longa, mas o sol teima em não aparecer. A noite fria e o silêncio rasgado, tornam a floresta ainda mais assustadora. CoRRe ...
cOrrE
CoRrE, com quantas forças tem, com quantas forças lhe restam.
[...]
As patas já não sentem o chão que pisam e o corpo tem golpes profundos feitos pelos arbustos que os olhos já não vêem e que lhe batem de frente.O corpo pesa-lhe a cada passo que dá.
CorRe
CorRe e continua a coRrER...
cOrRe com quantas forças tem e com aquelas que não tem.
[...]
Pensa nos filhos pequenos que ficaram dormitando e que aguardam a chegada da mãe com um naco de carne para comer. Pensa neles, porque é a eles que quer abraçar e acariciar e dizer-lhes o quanto gosta deles.
CoRrE,
cOrRe e
CoRrE... mas as forças vão-lhe abandonando aos poucos.
O cheiro de quem lhe persegue, está perto. Os gritos de euforia, de quem mata por desporto, atordoam-he os ouvidos.
Não tem força.
Tropeça. Levanta-se, cambaleando, mas já não consegue continuar.
Pensa nos filhos. Despede-se mentalmente e deseja-lhes tudo de bom. Ainda tenta arranjar forças para continuar mas...
cai inanimada no chão... No chão que lhe viu nascer e onde poucas vezes brincou com os filhos. [Já não lhe deixam brincar mais...]
Foi baleada... sem dó nem piedade. Ainda está conciente, mas sabe que lhe restam poucos segundos de vida... Ouve as gargalhadas dos algozes que lhe tiraram a vida, dos algozes que lhe privam ver os filhos crescer... Com que direito?
Sente-se esvair em sangue. Os filhos já não vão ter quem os abrace com o carinho incondicional de mãe.
Amanheceu. Mas ela já não viu o nascer do sol.

Alguém se importou?