quinta-feira, 2 de abril de 2009

Shiiiiiiuuuuuuuuuuuuu

- Boa noite!
- Boa noite, responde-me numa voz quase inaldível.

Em ténues passos largos, o homem vai à frente. A mulher, essa, segue-lhe o rasto. Os gestos são comprometidos e a movimentação é surda.
Que comportamento estranho, penso.

Fecho a porta do carro de forma barulhenta. O homem pára. A mulher não reage.
Olham-me com ar de reprovação.
Não percebo. Permaneço calada, à espera de qualquer coisa. Mas não me explicam.
Marido e mulher retomam a marcha. Os gestos são os mesmos, comprometidos. A movimentação continua surda.
Dois metros mais à frente, o homem pára.
Um gato, de pêlo dourado e olhar faraónico distingue-se na noite tépida. Parece perdido.
Agora, de braços bem abertos, o homem olha para trás. O olhar é de hesitação...
- Estou aqui. Não o disse, mas foi como se dissesse. Foi isso que entendi, no olhar daquela mulher para aquele homem, de braços abertos. E foi isso que ele percebeu.
Confiante, abriu ainda mais os braços e... num segundo AGARROU aquela bola de pêlo dourado.
AGARROU-O com tanta força que tive inveja... O gato, esse, nem reage. Não mia, não arranha. Deixa-se afundar nos braços do homem. Já não está perdido, penso.

O barulho regressa. O sorriso é o de missão cumprida. Fiquei para trás.
Homem e mulher voltam para casa.
Pah! Escuto a porta a fechar.
- Também quero ser AGARRADA assim... [murmuro baixinho...]

(mas ninguém me ouve...)

Estado de espírito...

Anaktuga...



Temos pena...

Chegas de rompante, como se nada fosse... como se nada tivesse mudado...

Mas tudo mudou.
E eu já não sou a mesma pessoa.
E o valor que tinhas deixaste de ter.
Porque não quero um abraço teu.
Porque [tu] não mereces um abraço meu.
E terminamos por aqui.
O que existia deixou de existir [aqui e agora].