domingo, 2 de maio de 2010

Sente-se livre. Voltou a sentir a leveza de espírito que experimentara na adolescência. É a Leonor. A menina mulher que cresceu a acreditar em algo que hoje não consegue perceber... A menina mulher que cresceu a tentar lutar por causas que hoje deixou de defender... A menina mulher que hoje não sabe quem é, onde está, nem para onde vai... A menina mulher que HOJE desistiu de tudo o que tinha e não tinha... Hoje, ela deixou de ser a irmã do Manuel, a tia do Francisco, a cunhada da Cristina, a neta da avó Maria, a amiga da Isabel, da Filipa, do Duarte, para passar a ser simplesmente a Leonor. Antes de ser tudo o resto, era a Leonor.

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Deambula cansada, de olheiras fundas e cabelo desgrenhado ao sabor do vento gelado da noite. Sente-se leve. É a única coisa que sabe e a única que quer saber naquele momento.
Está confusa e desorientada. Não sabe o que é verdade ou mentira. Talvez seja por isso que se sente bem, pensa.
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Senta-se no chão. As horas passam e o efeito também. O corpo, agora pesado, já não se sente livre mas, sim, preso. Não tem forças, mas também já não precisa. O sorriso é forçado, gélido e sem côr. As palavras transformaram-se em gemidos de dor e o aperto no peito é cada vez maior. Sente-se desvanecer...

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É encontrada no chão, gelada, sem vida.
O sorriso forçado e sem côr mantinha-se.
Teve que deixar de ser a irmã do Manuel, a tia do Francisco, a cunhada da Cristina, a neta da avó Maria, a amiga da Isabel, da Filipa, do Duarte... Só assim teve coragem. Teve de se desligar de tudo e de todos para o conseguir. E fê-lo, na ânsia de se voltar a encontrar com todos aqueles que gosta, num qualquer lugar ou tempo mais feliz...

1 comentário:

Carlos disse...

Muito duro, mas muito bem escrito. Beijinhos.